quarta-feira, 17 de junho de 2009

Cisalhamento em Lajes Treliçadas



Com a constante evolução dos materiais de construção e sofisticação dos modelos de cálculo utilizados para análise de esforços e dimensionamento das estruturas, temos notado projetos arquitetônicos e obras cada vez mais arrojadas. Muitas vezes isso resulta em grandes vãos a serem vencidos, e altos carregamentos a serem suportados.
O uso das lajes treliçadas vêm se mostrando bastante interessante para diversas situações. Além de suas facilidades e vantagens apresentadas por ser uma estrutura pré-moldada, têm um grande potencial no que diz respeito a suportar cargas altas, com vãos relativamente grandes. Apesar disso, devo alertar que para se aproveitar as qualidades e vantagens que o sistema treliçado oferece, é necessário que se tenha um bom conhecimento técnico não só do produto, como também das estruturas.
Tenho notado que uma das grandes dúvidas e confusões feitas pelos fabricantes de lajes treliçadas ocorre quando lhes aparecem casos em que se apresentam grandes esforços cortantes devido às cargas altas, ou cargas concentradas sobre a laje. Com isso, surge a necessidade de se armar as nervuras ao cisalhamento. O conhecimento técnico é fundamental nessa hora decisiva, e a falta dele pode inclusive levar o fabricante à “perder a venda”, pois ele acha que a única alternativa é a colocação de estribos adicionais nas vigotas, encarecendo bastante o produto final. Ou então simplesmente ignora essa necessidade de se armar ao cisalhamento, o que é ainda muito pior.
Essa é uma das situações que podemos tirar proveito da armação treliçada. Podemos utilizá-la como armadura de cisalhamento, eliminando assim os estribos e toda mão de obra e custo que seriam ocasionados pela colocação dos mesmos.
Para a correta utilização do sinusóide da treliça como armadura de cisalhamento, devemos fazer duas verificações: - a primeira é garantir que a armadura diagonal (sinusóide) estará ligando o banzo comprimido ao tracionado. Ou seja, o banzo superior da treliça deve estar mergulhado na zona comprimida da laje, que geralmente fica logo abaixo da face superior da laje. Por isso, devemos ter a treliça com uma altura maior do que o elemento de enchimento, chegando até a face superior da laje menos o cobrimento da armadura. Não basta termos uma treliça com a mesma altura do enchimento, ou estando logo acima deste. - a segunda é que a área da seção transversal da armadura da diagonal tracionada seja suficiente para resistir a esses esforços.
Há casos ainda que é necessário que se aumente a altura final da laje, o que mesmo assim compensa muito do ponto de vista técnico e comercial, pois além de uma laje menos deformável, ainda teremos um produto mais barato do que se tivermos que adicionar os estribos.
Muitas vezes, ao se fazer a opção da utilização da treliça como armadura de cisalhamento, somos obrigados a utilizar o EPS como elemento de enchimento, pois podemos ter a altura que desejarmos. Já com a cerâmica fica difícil fazer com que a treliça chegue até a zona comprimida, uma vez que suas alturas são padronizadas e seguem as mesmas alturas das armações treliçadas, ou pelo menos algo bem próximo disso.
Com isso, concluímos que as treliças podem ter além de sua função de enrigecer as vigotas e ditar a distância entre as linhas de escora, um papel de armadura de cisalhamento, tirando-se com isso o máximo de proveito de seu uso.

Engº Civil Otávio Araújo

Nenhum comentário: